terça-feira, 20 de outubro de 2009

Ela voara de peito ansioso para o reencontro. Mal sabia que o porvir era ainda mais imprevisto, não expectável. Mas foi. E foi pensando e pesando os doces e os amargos que a fizeram estar ali.

- Boa noite, senhora! Em que posso ajudar? ... Sim, sim. Eu mesma fiz a sua reserva.

Reservas. Nada pior que reencontros com reservas. Mãos nos bolsos, olhar pesado, coração duvidoso. Evitando o olhar e sem qualquer outro contato, ele estendeu o braço na direção do corredor. Ao abrir a porta, a oferta de um frio e distante sofá que, em outros tempos, teria sido testemunha do que só a eles era reservado.

- Tanto faz. - disse ele.

Lado a lado, finalmente, cabeça recostada ao ombro que ainda era dela, ela abre:

- Estou triste.

Com o corpo reclinado para frente, cotovelos nas coxas e mãos entrelaçadas, ele suspira e, sem tocá-la, concorda balançando a cabeça.
Ela se afastou. Não sentia ali o conforto do ombro que tantas vezes se lhe oferecia em sinal de cumplicidade.

Pensando tudo ser mal-entendido, pediu uma única explicação:

- O que eu deveria ter entendido?
- Não sei. Não sei o que quis dizer com isso.

Não eram mal-entendidos. As pistas lhe eram apresentadas desde a partida, mas ele se enganava e tentava enganá-la fazendo os sentimentos parecerem sem motivos.

Não havia mais chance. (?)
Mas ainda havia amor.
Então, mesmo os menos românticos saberiam: se há amor, há chance.

E nisso ele a fez acreditar até a manhã seguinte, expondo suas inseguranças sobre a distante vida a dois, mas sempre ratificando a existência (até então, inquestionável) de amor.

Ainda havia amor e, enquanto houvesse, ela esperaria por ele.

Mas o amor só durou até a manhã seguinte.

E hoje ela só quer acreditar que essa percepção do fim tenha sido por ele ter sentido que era pouco digno da espera que ela lhe oferecia.

1 comentários:

Marcos disse...

Querida, a elaboração das coisas é através da palavra. Sua dor, exposta no que vc escreveu poeticamente, vai sendo trabalhada. Gostei muito do que li. É um esboço, um esqueleto de algo bem maior. Do amor, da saudade, da distância. Da separação. Bem poético e francês, como aqueles filmes em tons pastéis de diálogos que varam a noite. Beijos!

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