segunda-feira, 3 de novembro de 2025

Você me prometeu contar, e eu acreditei.
Não por ingenuidade, mas por fome.
Fome de pertencer.

Esperei, conversa após conversa, o instante em que tua palavra tomaria corpo e, quem sabe, me abraçaria.
Mas teu silêncio nunca se rendeu à confissão.

Implacável, o tempo atravessou tua promessa como quem cruza ruas desertas.
Estive lá, observando, ouvindo o tique-taque mastigar a esperança.

Percebi, então, que teu silêncio nunca foi esquecimento, mas escolha.
Uma escolha tão firme que tudo ao redor aprendeu a calar contigo.
Eu, inclusive.

E a dor não se dispôs à hesitação.
Desta vez, todavia, não lhe darei morada, porque já não espero mais.
Não é desistência, por favor, me entenda.
É só um tipo novo de paz, daquele que nasce quando as esperas morrem, sabe?

E, antes que eu esqueça, anteontem abri o dicionário e me dei conta de uma coisa.
Há nomes de mais — e bonitos demais — para nomear o abismo que se impõe entre estas duas almas, quando elas se negam à cumplicidade.
Amor me pareceu um deles.

Você não acha?

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Faço de conta que sou rasa.
Assim, ninguém mergulha em mim de cabeça e não me quebra mais os azulejos.

Cansei de amores paraplégicos.
Na vida, não mais trampolim.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

E, no fim das contas, Ela não estava mesmo louca.
O que viu era verdade. A mais pura verdade, a traição escancarada.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Toda essa sacanagem me fez acreditar que ninguém é diferente. Até porque, caso a caso, "todo mundo é diferente" e acaba sendo igual.

Será que eu serei muito egoísta se não quiser pagar pra ver de novo?

:(

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Linguageiro, meu novo blog

Este não morrerá, mas a frequência das postagens tem sido cada vez menor. Mudei o foco, mas, sempre que tiver algo para dizer por aqui, direi.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Então ele começou a falar. Com disciplina, ela tentava entender o que ele lhe dizia. Não conseguiu. As sílabas pareciam cortadas. As palavras não existiam e, enfim, ela percebeu que nada mais fazia sentido.

Ela sorriu.
Calçou os chinelos, reamarrou o robe floral de seda.
Levantou-se, saiu da casa e daquela vida que talvez nunca tivesse sido dela. Fechou a porta e, clichemente, foi ser feliz.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Tudo estava igual, mas agora o ar se cortava com faca. Ele sabia o mal que fizera a ela, mas não imaginava que o tempo, embora um só, fazia-se lento para aqueles cujo mais grave e único delito fora amar demais.

Quis manifestar-se, mas a vergonha de sua mesquinhez o manteve silente a observar o tempo que esquecera de passar por ali. Pensou em dizer a ela toda a verdade, a confusão que lhe tomou o peito e fê-lo agir sem respeito com alguém a quem um dia dirigiu palavras de amor questionavelmente verdadeiro. Fraco, não pôde; não quis; não soube.

Mas agora ela estava ali, olhando para ele, esperando qualquer palavra que nem ela, nem ele sabiam.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Sentou-se em frente a ele, encarando-lhe o olhar baixo de quem em bolsos escondia as mãos. Ponderou. Levantou-se mais uma vez e flutuou em direção ao café que esfriara sobre a mesa. Deu um gole, talvez o mais amargo desde a partida dele. Voltou a encará-lo.

Quis lhe bater, macular os traços que ainda restavam daquele a quem um dia se entregou. Não havia por quê. O amante sucumbira entre os lençóis; o amado, no desbotamento natural das lembranças que, naquela cidade fria, ele deixou para trás.

Em pensamento, atirou a xícara contra a parede branca, mas deixou por isso, porque depois estaria mais uma vez sozinha a juntar cacos, remontando metaforicamente o que vinha sendo a sua vida desde o dia em fora amputada da história que ajudou a construir.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Eram 7h da manhã de um sábado nublado.
Sentada à mesa, ela lia as manchetes do dia anterior. O café esfriara e o pão, adormecido, permanecia encostado a um canto do prato.

Ouviu a campainha. Dirigiu-se à porta e pôde avistá-lo pelo olho mágico.
Quanto tempo havia desde seu último contato? Por que a procurava agora?

Amarrou o robe floral de seda e, respirando fundo, girou a chave e a maçaneta. Olharam-se por poucos e infindáveis segundos, até que ele, no olhar, convidou-se para entrar. Embora receosa, apontou-lhe o sofá ao lado do corredor, onde repousavam as almofadas que ele lhe dera em seu último aniversário.

O tempo havia parado ali: os mesmos quadros, os livros e as correspondências que ele deixara para trás. Olhou ao redor e lembrou o que viveram naqueles espaços: entre cafés e fotos, risos e abraços ausentes; a lista das coisas que sonharam juntos, em separado.

Enquanto isso, encostada à janela, ela fitava as nuvens que ainda se podiam distinguir no céu cinzento. Cultivava o silêncio que ele lhe oferecera durante anos de ausência inexplicada; esperava por um gesto, por uma palavra que lhe justificasse o tempo que esperara por eles. Nada.

Então ela se viu sozinha, como sempre esteve, mas respirou toda liberdade que alguém poderia ter. E, de repente, ser livre não mais a assustava.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Quando chegou o momento de conhecerem-na como só Ele sabia, Ela se permitiu sorrir. Ingenuamente, sem saber que a distância entre aqueles corpos era intransponível, o Outro lhe perguntou: "De que sorris?"
Não soube nem lhe pôde explicar, mas quase morreu de saudade, real e pleonasticamente, porque seus sorrisos eram cuidadosamente construídos por eles dois. Ele os entendia bem e ficava feliz em vê-los. Da mesma forma, Ela era feliz em ouvir todos os Seus sons.
 

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